Tendo por prelúdio as palavras de James Cavitt, um detento do presídio estadual de San Quentin, o cantor John Legend nos brinda com sua versão despojada e intensa da canção “Redemption Song”, de Bob Marley. E conclui: “Será que vocês me ajudam a cantar canções de liberdade?”
Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Raissa Mendes. Revisão: Ruy Lopes Pereira
Cantor, pianista, compositor, John Legend assumiu a missão de transformar o sistema penal dos Estados Unidos. Por meio de sua campanha Free America, ele está encorajando a reabilitação e a cura em prisões, cadeias e centros de detenção norte-americanos, e dando esperança àqueles que querem ter uma vida melhor depois de cumprirem sua pena.
Trazendo uma música clara, intensa e de comunicação imediata, em mensagens carregadas de otimismo, John Legend tornou-se um superstar vencedor de nove prêmios Grammy e um Oscar de Melhor Canção, “Glory”, no filme “Selma” em 2015.
Legend é também muito conhecido por seu trabalho filantrópico que leva adiante várias campanhas, entre elas Show Me Campaign, uma organização que trabalha para que cada criança norte-americana tenha acesso a uma educação de boa qualidade.
Vídeo: Redemption Song
Tradução integral do vídeo da apresentação de John Legend no TED:
Na campanha Free America, fazemos visitas de escuta e aprendizado. Visitamos não só promotores de justiça, mas legisladores e condenados do nosso estado e de prisões locais. Temos ido a centros de detenção de imigrantes. Conhecemos muitas pessoas. E vimos que a redenção e a transformação podem acontecer em nossas prisões, nossas cadeias e centros de detenção de imigrantes, dando esperança àqueles que querem ter uma vida melhor depois de cumprir sua pena.
Imaginem se também considerássemos o final desse período prisional. Como seria se interviéssemos, tendo a reabilitação como valor central, o amor e compaixão como valores centrais? Teríamos uma sociedade mais segura e mais saudável e onde valeria a pena criar os filhos.
Quero lhes apresentar James Cavitt. James cumpriu 12 anos na prisão estadual de San Quentin e vai ser solto dentro de 18 meses. James, como eu e vocês, é mais do que a pior coisa que ele fez. Ele é um pai, um marido, um filho, um poeta. Ele cometeu um crime; está pagando por ele e trabalhando duro para conseguir as habilidades para fazer a transição de volta a uma vida produtiva quando retornar à vida civil.
James, como outros milhões de pessoas atrás das grades, é um exemplo do que acontece se acreditarmos que nossas falhas não definem o que somos, que todos somos dignos de redenção e que, se apoiarmos os impactados pelo encarceramento em massa, podemos todos nos curar juntos.
Agora, quero lhes apresentar James, que vai compartilhar sua jornada de redenção através de palavras.
James Cavitt: Obrigado, John. TED, bem-vindo a San Quentin. Há muito talento atrás dos muros da prisão. Futuros engenheiros de software, empreendedores, artesãos, músicos e artistas. Esta obra é inspirada em todo o trabalho duro que homens e mulheres estão fazendo aqui dentro para criarem uma vida e um futuro melhores para si mesmos depois de cumprirem sua pena.
Esta obra se chama “Onde eu vivo”.
Vivo num mundo onde a maioria das pessoas tem medo de entrar. Cercado por muros altos de concreto, barras de aço, onde o arame farpado elimina todas as esperanças de um amanhã melhor.
Vivo num mundo que mata pessoas que matam pessoas para ensinar às pessoas que é errado matar pessoas. Imaginem só!
E, melhor ainda, imaginem um mundo em que pessoas curadas ajudem pessoas a se curarem e a se tornarem mais fortes. Talvez aí então todos nós estaremos cantando “Redemption Song”.
Vivo num mundo que tem sido chamado de “inferno na Terra” por quem está preso aqui dentro. Mas cheguei a esse penoso entendimento de que a prisão é realmente aquilo que fazemos dela. Vejam, apesar da dureza da minha realidade, existe um lado bom. Eu sabia que minha liberdade ia chegar, era só uma questão de tempo. Assim, tratei meus primeiros passos como se fossem meus últimos metros, e percebi que não é preciso ser livre para experimentar a liberdade.
E só porque alguém é livre não significa que tenha liberdade. Muitos de nós, por anos, lutamos com nossos demônios interiores. Andamos por aí sorrindo quando, por dentro, estamos gritando: “Liberdade!”
Percebem? Estamos todos cumprindo pena; só que em lugares diferentes. E, para mim, escolho ser livre das prisões que criei. O segredo: o perdão. Os atos são minha testemunha. Se queremos liberdade, então temos de pensar diferente. Porque liberdade… não é um lugar. É um estado da mente.
John Legend canta “Redemption Song”, de Bob Marley:
“Velhos piratas sim, eles me roubaram,
Me venderam para os navios mercantes,
Minutos depois que me tiraram do porão sem fundo.
Mas minhas mãos se fortaleceram pela mão do Todo-Poderoso.
Nossa geração vai seguir em frente, triunfante.
Será que vocês me ajudam a cantar essas canções de liberdade?
Pois tudo o que tive foram canções de redenção,
Canções de redenção.
Libertem-se da escravidão mental Ninguém, exceto nós mesmos, pode libertar nossa mente.
Não tenham medo da energia atômica, porque nada disso pode parar o tempo.
Por quanto tempo eles vão matar nossos profetas enquanto ficamos parados olhando?
Alguns dizem que faz parte, que Deus quis assim.
Será que vocês me ajudam a cantar essas canções de liberdade?
Pois tudo o que tive foram canções de redenção,
Canções de redenção.
Libertem-se da escravidão mental. Ninguém, exceto nós mesmos, pode libertar nossa mente.
Não tenham medo da energia atômica pois nada disso pode parar o tempo.
Por quanto tempo eles vão matar nossos profetas enquanto ficamos parados olhando?
Alguns dizem que faz parte que Deus quis assim.
Será que vocês me ajudam a cantar essas canções de liberdade?
Pois tudo o que tive foram canções de redenção,
Canções de redenção.
Essas canções de liberdade
Pois tudo o que tive foi canções de redenção
Canções de redenção, canções de redenção.