Pode haver vida na Lua. São os tardígrados, levados para lá pelas mãos do homem

 

A nave espacial israelense Beresheet, que caiu na superfície lunar em abril ultimo, derramou nela milhares de pequenas criaturas vivas conhecidas como tardígrados. Parentes próximos dos insetos, esses novos moradores da Lua são considerados a forma mais resiliente de vida em nosso planeta. Cientistas ainda não têm certeza, mas é possível que eles consigam sobreviver na superfície alienígena da Lua, apesar das suas difíceis condições.

Por: Luis Pellegrini

Invasão da Lua? A possibilidade é real, e os “invasores”, em número de muitos milhares, pertencem à espécie dos tardígrados e são provenientes da Terra, levados para a Lua a bordo da nave espacial israelense Beresheet (“no começo”, em hebraico), que se espatifou contra a superfície do satélite em abril último.

A sonda Beresheet quando se aproxima do solo lunar, pouco antes do acidente que a destruiu.

Os tardígrados – conhecidos por serem os animais mais resistentes e duráveis de toda a criação – podem agora estar vivendo na Lua, apesar das condições brutais que nosso satélite oferece para qualquer ser vivo. Os cientistas não têm certeza de que isso seja possível, mas são praticamente unânimes em afirmar que a possibilidade existe.

Pessoas observam uma tela que mostra uma imagem da superfície lunar tomada pelas câmeras da nave israelense à medida que a espaçonave se aproximava.

Quando a Beresheet – que é a primeira espaçonave privada a chegar à Lua – se aprestava para descer à sua superfície, ela sofreu um acidente, caiu, e a missão foi abortada. Para a maioria das pessoas e para os chefes da missão, esse evento catastrófico encerrou tudo. Mas os tardígrados que a espaçonave levava a bordo – fiéis à sua reputação de serem extremamente resistentes – podem ter sobrevivido ao acidente e se espalhado pela superfície, onde poderiam estar vivendo hoje.

Cientistas israelenses terminam os preparativos da nave Beresheet.

Biblioteca da vida na Terra 

“Ironicamente, nossa carga útil pode ser a única coisa sobrevivente daquela missão”, declarou Nova Spivack, um dos chefes da missão. Foi ele quem revelou a presença da colônia de tardígrados a bordo da Beresheet. Spivack fundou a Arch Mission Foundation, que está tentando deixar cópias de arquivos relativos ao conhecimento humano em todo o mundo. Ele e sua organização carregaram a memória da sonda Beresheet com uma biblioteca que poderia servir como um resumo da vida na Terra: 30 milhões de páginas de informação, amostras de DNA humano, e os tardígrados.

Minúsculos porém eternos

Os tardígrados foram descobertos pela primeira vez no século 18 e desde então têm fascinado cientistas. Eles são minúsculos, medindo apenas cerca de meio milímetro de comprimento e são encontrados em toda a Terra. Grande parte da razão para o fascínio é o quanto são capazes de suportar ambientes extremos e sobreviver. Eles mostraram a capacidade de serem expostos a temperaturas muito altas e muito baixas, a pressão atmosférica intensa, de serem privados de ar, comida e água, além de já terem demonstrado que podem viver depois de serem colocados no espaço sideral e trazidos de volta à Terra.

Tardígrados: animais extraordinários, têm a habilidade de entrar em um estado de dormência profunda, que causa a paralização de todos os seus processos metabólicos no qual suas células parecem se transformar em vidro. Mas quando as células são colocadas em um ambiente favorável, e entram em contato com a água, elas se reidratam e rapidamente voltam à vida.

Eles fazem essa festa toda entrando em um estranho estado de hibernação, no qual podem desligar uma variedade de processos biológicos e depois reiniciá-los novamente quando acordarem. Eles poderiam estar fazendo isso na Lua, alertam os cientistas, e permanecerem prontos para reviver quando as condições estiverem certas e favoráveis. Como tal, os cientistas não pensam necessariamente que os tardígrados vão prosperar na Lua. Mas eles poderiam estar esperando lá, prontos para serem pegos e revividos, dizem eles, e poderiam permanecer nesse estado por anos, talvez décadas ou séculos. Em outros planetas que poderiam potencialmente ser o lar da vida, a Nasa e outras agências espaciais são muito cuidadosas para não contaminar a superfície com a vida da Terra. Mas a Lua é considerada um corpo celeste morto, e nela as restrições são muito menores. Por exemplo, sabe-se que os astronautas da Apollo deixaram em sua superfície uma bela quantidade de matéria fecal repleta de bactérias…

Ursos da água

Os tardígrados, esses pequenos animais que acabamos de levar para a Lua, constituem certamente uma mercadoria mais nobre. Conhecidos nos países de língua inglesa como “water bears” (ursos d’água), existem mais de 900 espécies deles e estão espalhados por toda a Terra.

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