A CARAPAÇA DA LAGOSTA

 
 

Ele cresceu. Vai ter de mudar de carapaça.

Texto de Luis Pellegrini

A lagosta vive tranqüilamente no fundo do mar, protegida pela sua carapaça dura e resistente. Mas, dentro da carapaça, a lagosta continua a crescer. Ao final de um ano, sua casa fica pequena e ela tem de enfrentar um grande dilema: ou permanece dentro da carapaça e morre sufocada ou arrisca sair de lá, abandonando-a, até que seu organismo crie uma nova carapaça de proteção, de tamanho maior, que lhe servirá de couraça por mais um ano.

Vagando no mar, sem a carapaça, a lagosta fica vulnerável aos muitos predadores que se alimentam dela. Mesmo assim, ela sempre prefere sair. Dentro da carapaça, que se transformou em prisão, ela não tem nenhuma chance. Fora, sim. Também nós, muitas vezes, ao longo da vida, ficamos prisioneiros de várias carapaças: os hábitos repetitivos, os condicionamentos alienantes, as situações às quais nos acomodamos mas que, exauridas e desgastadas, nada mais têm para nos oferecer. E acabamos, por falta de coragem de mudar, nos acostumando ao tédio de uma vida monótona que, fatalmente, como a velha carapaça da lagosta, acabará por nos sufocar.

Façamos como a lagosta: troquemos a velha e apertada carapaça por uma nova. Mesmo sabendo que, por algum tempo, estaremos desprotegidos ao enfrentar uma nova situação. Largar o velho e abraçar o novo é, muitas vezes, a única possibilidade de sobreviver por mais um ano. Até que cresçamos ainda mais e, novamente, tenhamos de mudar de carapaça.

Originally posted 2010-03-31 17:33:15.

Comentários

comentários

18 pensou em “A CARAPAÇA DA LAGOSTA

  1. Roberto Faria Cortijo

    Na verdade, nem sempre podemos deixar a carapaça, porque precisamos avaliar o custo beneficio de uma decisão que pode ser desastrosa e sem recuperação. Deixar a carapaça não poder ser determinada somente pelo aspecto da emoção circunstancial. Fatores racionais devem ser considerados com a necessária paciência analítica para se verificar se a carapaça não é, na realidade, uma armadura protetora contra impulsos motivados pelas informações torrenciais da insana atualidade em que vivemos. O exemplo da lagosta é, até certo ponto, interessante, mas não nos esqueçamos que fora da carapaça a espécime faz parte de uma cadeia alimentar equilibrada pelos predadores. Nos seres humanos, com ou sem carapaça, somos sempre uma espécime devorada pela impiedade de nossas próprias escolhas. Háriphat, o poeta sufi do deserto.

  2. Juliana Nuness

    Luis, o texto é simplesmente maravilhoso! No final do ano passado percebi que o que
    eu fazia na empresa havia se tornado algo repetitivo pra mim. Estava fazendo as coisas de uma forma “mecânica “, sem graça pelo que eu fazia. No início deste ano resolvi e pedi demissão nesta empresa. Depois de 4 meses, navegando sem a carapaca consegui me recolocar no mercado e hoje estou bastante feliz com o que faço. Devemos levar as dificuldades como desafios na nossa vida! Um grande abraço Luis e todos os colegas da web!

  3. Juliana Siqueira

    Nooossa! Esse texto me fez lembrar de como eu era resistente a mudanças. A carapaça da lagosta vai servir de tema para uma motivacional na minha empresa. MUITO BOM!!!!!

  4. Hamine

    Li seu texto Profissao Esoterico. Ele me caiu como uma luva. Gracias por tamanha explanação.
    Que beleza que estas aqui na minha Terra Chilena! Vivo no Chile e amo este pais. Aproveite bastante.
    besitos,
    Hamine.

  5. Luis Pellegrini Autor do post

    Cara Neusa, estou na Patagonia chilena para reportagem. Quando voltar a Sao Paulo, dentro de uns 10 dias, vou ver o que posso sugerir para voce. Abs

  6. Neusa Rocha

    Recebi esse texto na Jornada pedagógica ano passado e achei muito pertinente para a ocasião.Esse ano resolvi utilizá-lo novamente para detectar dificuldades de leitura e interpretação em alunos do ensino medio de minha escola, pedindo a eles que fizessem um paralelo do texto com a vida deles como aluno.Se for possivel gostaria de receber outros textos voltados para educação e aprendizagem

  7. Sirlei

    Muito bom, também li na Revista Planeta e procurei.
    Uma comparação maravilhosa com a vida.

    Abraços Sirlei

  8. RENATO

    Bastante útil, aos que se imaginam donos da verdade. Esta, nunca será exata, pois a cada dia sim, é um dia novo. Penso que a mudança é mais veloz ainda, humanamente falando, mudanças e adaptações são uma constante. SEM PERDER O FOCO, APENAS APRIMORAMENTO DIÁRIO.

  9. Clene Salles

    Luis, depois de ler essa matéria com calma no silêncio da noite, conclui: é o Poder da Vulnerabilidade – este poder incita o desenvolver (des-envolve – tirar, remover o envolvimento) estimulando o crescimento. Ao invés de a olharmos como vítima – exposição – olharmos e sentirmos como um passo a mais em direção à vitória.

  10. Sonia Weil

    Luís,
    Gostei muito do que você escreveu.
    E embora esse “despojar-se da casca” seja um movimento necessário do processo de crescimento e renovação, fiz uma relação desse primeiro momento, o de “ficar na carapaça” com o Perfil do Número 9 na Numerologia.
    O 9 tem mêdo de largar a carapaça, que é todo o conhecimento que ele adquiriu ao longo de suas experiências de vida. E com isso, suas certezas de “como as coisas são”. Quando toma decisões, ele sempre se remete ao “arcabouço do seu passado”, e tenta fazer links entre as situações semelhantes que já viveu e o acontecimento novo. E vai sempre verificar todas as alternativas possíveis (“e se eu fizer assim, o que vai acontecer, e se eu fizer assado…”) antes de resolver.
    Tudo passa pelo escrutínio da razão. Para não se machucar, ele não se lança sem corda de segurança. Ou melhor, ele não se lança. Ele só entra em algo novo com toda a segurança. Por isso ele está mais ligado ao passado do que ao presente. À preservação do que aprendeu e adquiriu do que ao risco. À carapaça de segurança do que à renovação.

  11. Luis Pellegrini Autor do post

    Nina, obrigado pelo “lindão”. Encheu a minha bola… Abraços.

  12. Fábio

    Muito bom, também li na Planeta e procurei.

    Obrigado. Abraços.

    Fábio

  13. Patricia Melo

    Namastê Luis,

    Li seu texto na Planeta e gostei muito, tanto que postei hoje em meu blog, com os devidos créditos.
    Quando o interno muda mudamos a realidade à nossa volta, adorei, um abraço.

  14. Luis Pellegrini Autor do post

    Você deve ter lido o mesmo texto na revista Planeta de dezembro 2010, Osnar, da qual sou diretor. Achei que o tema era bom para o final do ano, e da década… E também estou a fim e trocar de carapaça!

  15. Osnar Andrade

    Li esse artigo em uma revista, gostei tanto que resolvi procurar mais a respeito do mesmo na internet.

  16. Janaina Montenegro

    Lindo Luis,

    Muito oportuno esse texto. Nos dá coragem p/ largar quantas vezes se fizerem necessário nossa “carapaça”.

    Obrigada lindão,

    Muita sorte e sucesso,
    Nina

  17. Margareth Félix

    Mudar de carapaça é questão de sobrevivência. É difícil, dói bastante, mas é sempre necessário.

    Luz e Paz, sempre!!!