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A sombra da soberba: Quando a arrogância apaga os contornos do real

A Arrogância, entendida no seu sentido original, o grego, que é a perda da consciência de limites, o descomedimento, a perda do métron, a medida das coisas. Os gregos a chamavam de húbris, e a consideravam a única falha trágica que não tem remissão. O arrogante é punido com a danação eterna. Não é isso que estamos fazendo, por exemplo, com a Mamãe Natureza? Sem falar na própria ideia de produtividade e consumismo insustentáveis, que constituem a própria base da civilização capitalista. Vivemos em uma época em que a exaltação do ego é muitas vezes confundida com força, liderança ou autenticidade. No entanto, por trás de muitos discursos de autoconfiança extrema, de certezas inflexíveis e de atitudes dominadoras, esconde-se um fenômeno humano ancestral e perigoso: a arrogância. Mais do que um simples traço de personalidade, a arrogância é, em sua essência, uma forma de cegueira – uma perda da consciência de limites. Limites são, ao mesmo tempo, estruturas de contenção e possibilidades de encontro. Eles delimitam o que somos, definem onde termina o eu e começa o outro, onde posso agir e onde devo recuar. Reconhecer limites é reconhecer a própria humanidade: falível, finita, situada. A consciência de limites não é fraqueza; é maturidade. Saber até onde se pode ir – com a palavra, com a ação, com o desejo de controlar – é um exercício constante de lucidez e humildade. Quem tem essa consciência sabe que há fronteiras éticas, emocionais e existenciais que precisam ser respeitadas, sob pena de causar dano a si e aos outros.