Retratos solares. Iluminar o mundo com painéis elétricos

 

A ideia da série de imagens “Retratos Solares” veio à mente do fotógrafo espanhol Rubén Salgado Escudero  quando ele conheceu vilarejos equipados com painéis solares. Transformado em exposição fotográfica, o projeto correu o mundo e se transformou em emblema da luta para levar energia elétrica aos quatro cantos do mundo.

Fotos: Rubén Salgado Escudero

Por: Katerina Markelova

Fonte: Unesco Courrier (https://pt.unesco.org/courier/2019-2)

“Será que eu tenho o direito de estar aqui?  Em mais de uma ocasião, Rubén Salgado Escudero fez a si mesmo essa pergunta enquanto viajava pela zona rural de Mianmar com seu caro equipamento fotográfico. O fotógrafo espanhol, que visitou este país em 2014 em nome de uma organização humanitária, ficou impressionado com a evidente falta de acesso à eletricidade. “A maioria dos vilarejos onde estive, não tinha eletricidade”, explica ele.

Cristóbal Céspedes Lorenzo e seu jovem sócio, Francisco Manzanares Cagua, carregam cocos recém-colhidos pelo rio até Copala, no México, que serão vendidos à uma empresa que produz manteiga e óleo de coco.  

Das mais de 53 milhões de pessoas em Mianmar, 22 milhões são desprovidas deste bem essencial, que até então era tão comum aos seus olhos. Enquanto 79% dos moradores urbanos têm acesso à energia, este número cai drasticamente nas áreas rurais, onde apenas 43% da população pode acender as luzes de suas casas ao anoitecer.

Cavando uma latrina domiciliar no estado de Kayah, em Mianmar. No Sudeste asiático, 65 milhões de pessoas vivem sem eletricidade, 95% delas em quatro países – Camboja, Indonésia, Mianmar e nas Filipinas.

Uma vez concluída sua missão, Escudero seguiu viagem como fotógrafo por conta própria, e decidiu que mereceria o direito de estar lá. Ele ainda não sabia como, mas queria chamar atenção para o problema. A ideia da série de imagens “Retratos Solares” veio à mente quando ele conheceu vilarejos equipados com painéis solares. “A qualidade de vida daquelas pessoas era tão diferente da de alguns de seus vizinhos”, lembra ele.

O fotógrafo espanhol Rubén Salgado Escudero

A energia é, de fato, essencial para a humanidade se desenvolver e prosperar”. É essencial para se alcançar muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas em sua Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que inclui a erradicação da pobreza, o acesso universal à educação de qualidade e a igualdade de gênero. A energia limpa e acessível para todos é, em si, um desses Objetivos. Esta é a primeira vez que o papel fundamental da energia foi reconhecido nessa escala, de acordo com o relatório.

Faustina Flores Carranza e Juan Astudillo Jesús em sua casa em Guerrero, no México, recentemente iluminada por energia solar. Esta é a primeira vez que o casal, casado há 48 anos, foi capaz de olhar nos olhos um do outro depois do escurecer.

No entanto, “em muitos países, o acesso à eletricidade ainda é um privilégio e não um direito”, diz o fotógrafo com indignação. Em 2017, havia cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo sem eletricidade. Contudo, como podemos atrair a atenção do público, cada vez mais cansado das notícias negativas que chega até ele todos os dias? “Encontrando novas maneiras criativas de contar histórias, para chamar a atenção das pessoas”, responde Escudero.

Estudantes fazem suas lições de casa pós-escola em um centro comunitário alimentado por energia solar em Yangon, Mianmar. Estudos mostram o papel essencial da eletricidade na promoção da alfabetização e na melhoria da qualidade da educação. Em 2017, apenas 27% das escolas do país tinham eletricidade.

Ele tira suas fotos apenas com a luz de lâmpadas LED alimentadas por painéis solares. Essa luz, que dá às imagens um ar de quadros de Rembrandt e que, sem dúvida, emanam energia positiva, tem despertado um interesse que o fotógrafo não esperava. Publicadas na revista semanal norte-americana Time, e na revista mensal alemã GEO, suas fotos de Mianmar inspiraram entusiasmo do público. Tanto que o fotógrafo, com a ajuda de um leitor austríaco, lançou uma campanha para levantar fundos, “Let there be light Myanmar”, (“Que haja luz, Mianmar”, em tradução livre). Em 2016, os recursos arrecadados foram usados para equipar três vilarejos com painéis solares, beneficiando 400 habitantes.

Desde então, o projeto continuou a crescer. O fotógrafo novato mereceu atenção da revista norte-americana National Geographic, que o enviou à Uganda, na África subsaariana, em 2015, para completar a série. Estima-se que, até 2030, essa região abrigue 600 milhões das 674 milhões de pessoas vivendo sem eletricidade no mundo.

No mesmo ano, Escudero visitou a Índia, que atualmente realiza um dos maiores feitos da história da eletrificação. Desde o ano 2000, meio bilhão de indianos estão conectados à rede elétrica, e espera-se que o país consiga alcançar sua meta de acesso universal à eletricidade até o início dos anos 2020.

Too Lei, um oozie, ou manipulador de elefante, posa em seu elefante na região Bago de Mianmar. Por 300 anos, os oozies trabalham com elefantes para garantir a exploração madeireira sustentável.

Em 2017, o fotógrafo viajou por todo o México. Em 2019, ele pretende visitar os navajos no Novo México (Estados Unidos), assim como a Guatemala, a Colômbia e as Filipinas.

Atualmente, Escudero organiza workshops nas escolas de cada comunidade onde faz o seu trabalho. Por meio de experiências práticas com lâmpadas solares*, os estudantes se familiarizam com o conceito de energia renovável, que é, segundo a AIE, a solução mais econômica para três quartos das novas conexões necessárias no mundo. “Quanto mais cedo sensibilizarmos as crianças sobre a importância desta questão, maior será a probabilidade de os futuros líderes não se mostrarem indiferentes ao tema, e nos levarem na direção certa”, explica ele.

Galeria: Fotos do projeto “Retratos Solares”, do fotógrafo espanhol Rubén Salgado Escudero

 

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