O poder da música. As mil e uma virtudes dos sons musicais

 

“Sem a música a vida seria um erro”, disse o filósofo Nietzsche. A música não tem limites, fronteiras, ou bandeiras. Ela ativa o nosso cérebro, melhora o desempenho esportivo, catalisa as relações sociais, ajuda na educação e inclusive tira as plantas da depressão! Conheça algumas das virtudes dos sons sabiamente organizados com ritmo, melodia e harmonia.

Por: Luis Pellegrini

Diz um antigo ditado que “a música amansa as feras”. Ela tem um efeito poderoso sobre nós. Uma melodia, mesmo as mais simples, é capaz de despertar nossas emoções, trazer um sorriso para nossos rostos, fazer-nos esquecer por alguns momentos as preocupações do dia a dia.

Sabe-se agora que a música não é um recurso que deve ser usado apenas para despertar nossos sentimentos: entre outras coisas, ela serve também para promover a aprendizagem e melhorar a memória. Logo abaixo damos um pequeno elenco dos efeitos que a música exerce sobre nós. Foi elaborado a partir das conclusões de vários estudos feitos por pesquisadores do mundo todo. A lista nos ajuda a entender por que, segundo a pesquisadora norte-americana Carol

Krumhansl, especializada dos efeitos psicológicos da música no ser humano, “a música transmitida de geração em geração forma as nossas memórias autobiográficas, preferências e reações emocionais”, fenômeno que ela chama de “choque de reminiscência”.

 

Dez efeitos pouco conhecidos do poder da música

 

1 – Desempenho esportivo – Quando utilizada nas competições desportivas, a música não é apenas um acompanhamento de fundo: ela pode determinar o melhor ou o pior desempenho do atleta. Segundo estudo da Georgia Southern University, a música ajuda a controlar os níveis de ativação fisiológica (arousal) antes e depois da competição, ajuda os atletas a se concentrar e a criar o espírito de equipe. Uma outra pesquisa, efetuada pela Brunel University (Londres) mostra que a música adequada pode aumentar a resistência física em até 15%. E um estudo britânico, realizado em 2005, demonstrou que a audição de boa música pode melhorar em até 20% os desempenhos desportivos (uma espécie de dopping, portanto, porém legal e saudável).

 

2 – Nascimentos prematuros – A boa música (de qualidade alta, não agressiva, harmoniosa) pode constituir um suave pano de fundo para as longas permanências em incubadeiras e nas maternidades a que são obrigados os bebês nascidos antes do término normal de uma gravidez. Pesquisadores canadenses observaram que proporcionar música aos recém nascidos prematuros ajuda os pequeninos a suportar melhor a dor e encoraja melhores hábitos alimentares, favorecendo o aumento de peso. Os gêneros preferidos? A música clássica – com as composições de Mozart em primeiro lugar –, e os sons que recordam os batimentos cardíacos da mãe e os ruídos abafados que o bebê percebe quando está dentro do útero: estes últimos favorecem o sono dos bebês prematuros quando estão internados nos hospitais.

 

3 – Plantas deprimidas – Além de favorecer o crescimento dos recém-nascidos, a música também encoraja o desenvolvimento das plantas. Pelo menos é isso que afirmam algumas teorias elencadas na obra The Sound of Music and Plants, publicado em 1973, escrito pela professora universitária Dorothy Retallack, da Universidade do Colorado. Em alguns dos seus experimentos, Retallack forneceu, de modo contínuo, música de dois gêneros musicais diferentes a dois grupos idênticos de plantas: música rock e música lounge respectivamente. Duas semanas depois, as plantas que tinham “ouvido” música rock tinham crescido, mas recurvadas e com as folhas retorcidas e amareladas. Detalhe: essas plantas tinham crescido no sentido contrário de onde estavam os alto-falantes, como se quisessem se afastar deles. Mas as plantas do segundo grupo tinham crescido de maneira uniforme e surgiam muito verdes e luxuriantes, quase se estendendo em direção à fonte musical.

 

4 – Lesões cerebrais – A música é um importante instrumento de reabilitação cognitiva para as pessoas que sofreram lesões cerebrais, e também para quem enfrenta doenças neurodegenerativas. A escuta das músicas preferidas pode melhorar o humor e a disposição para colaborar dos pacientes que sofreram um derrame. Estimulações rítmicas podem ajudar na recuperação de algumas funções linguísticas e sonoras. Nos pacientes com Parkinson, servem de coadjuvantes nos exercícios destinados à recuperação do equilíbrio.

 

5 – Atração e repulsão – A música funciona como catalizador social, proporcionando uma identidade comum a muitos grupos de jovens. Isso é conhecido há bastante tempo, mas sabe-se agora que ela também pode produzir o efeito oposto: pode inclusive afastar dos lugares onde se faz música as pessoas que não apreciam o gênero musical que está sendo tocado ou irradiado. O fenômeno é bem conhecido por quem dirige ou trabalha em lojas elegantes, bibliotecas silenciosas e na recepção de hotéis: nesses locais, usa-se música clássica e de alta qualidade para afastar a clientela indesejada (por exemplo, uma audiência de pessoas muito jovens que nem sempre apreciam o gênero). Quando o cérebro escuta alguma coisa que não aprecia, ele inibe a produção de dopamina, um hormônio que nos faz sentir contentes e satisfeitos. Assim sendo, a pessoa irá para outros locais em busca do tipo de música que as faz se sentir bem.

 

6 – Proteção dos ouvidos – Em certos casos, a escuta frequente de música pode prevenir os problemas naturais de perda da audição ligados à idade. Um estudo feito com amostragem de 163 adultos, metade deles músicos profissionais, demonstrou que os cultores de música conseguem processar os sons melhor do que os indivíduos que não têm tais hábitos, com uma discrepância que aumenta enormemente com a idade. Um músico de 70 anos consegue em média distinguir os sons em um ambiente rumoroso com a mesma eficiência de uma pessoa não musicista de 50 anos.

 

7 – Moléstias cardíacas – No caso de pacientes que sofreram cirurgias cardíacas ou tiveram um infarto, foi demonstrado que a escuta de música relaxante baixa a pressão sanguínea, reduz os batimentos e ajuda a reduzir e controlar a ansiedade. Uma música alegre e dinâmica, especialmente quando o paciente gosta dela, provoca a expansão dos vasos e intensifica a circulação do sangue, favorecendo a saúde do coração.

 

8 – Adolescentes difíceis – No caso de adolescentes problemáticos, verificou-se que os efeitos positivos são observados não apenas por causa da melodia da música mas também por seu conteúdo e mensagem. Um estudo britânico de 2008 demonstrou como a escuta de música que contem uma mensagem social positiva (como “Heal the World” de Michael Jackson) encoraja comportamentos colaborativos nos adolescentes. Não se obtém o mesmo efeito com as músicas neutras ou destituídas de mensagens desse tipo.

 

9 – Alfabetização e resgate social – Algumas orquestras organizadas em locais muito carentes, como favelas ou bairros muito pobres, conseguem retirar garotas e garotas que vivem nas ruas e encaminhá-los para um novo objetivo comum. No Brasil existem várias iniciativas do gênero em funcionamento, citando-se como exemplo o Projeto Prima, na Paraíba, que já conseguiu recuperar centenas – talvez milhares – de crianças e adolescentes que viviam em estado de abandono parcial ou total. A música pode agir também de maneira ainda mais concreta. Um estudo norte-americano de 2009 demonstrou que aprender a ler música e a reconhecer as notas musicais em idade escolar potencializa também a habilidade de leitura geral, contribuindo de modo notável para a alfabetização. A música não torna as pessoas mais inteligentes, mas certamente auxilia na memorização e na velocidade do aprendizado.

 

10 – Promoções subliminares – Passando das causas sociais para o mundo mais concreto dos negócios, verificou-se que a música de fundo presente nas lojas encoraja certos tipos de compras. Por exemplo, fazer ouvir música francesa em uma loja de vinhos incrementará as compras de garrafas provenientes desse país. Da mesma forma, escutar música alemã leva a um aumento das vendas de vinhos alemães. O mesmo acontece para os vinhos italianos.

 

 

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