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Aquecimento global. Algumas áreas se tornam inabitáveis para o ser humano

 

Em algumas zonas do planeta a elevação das temperaturas já atingiu o ponto no qual a permanência prolongada de seres humanos e da maioria dos animais e plantas torna-se impossível. Na foto de abertura, em Jacobabad, Paquistão – a cidade mais quente do mundo -, as pessoas se atiram aos rios para resistirem ao calor.

Por: Equipe Oásis

Nos sites que lidam com o clima e na previsão do tempo na TV, fala-se constantemente sobre a temperatura e a umidade do ar (especialmente nesses tempos de aquecimento global). Mas há um parâmetro que quase nunca é mencionado, apesar de sua considerável importância para avaliar as condições meteorológicas de um local: “temperatura de bulbo úmido” (a temperatura que se sente quando a pele está molhada e está exposta a movimentação de ar.

O Forte Dhayah, em Ras Al Khaimah, nos Emirados Árabes Unidos, uma das áreas onde foram registradas temperaturas recorde, tornando a zona totalmente inabitável.

Ao contrário da temperatura de bulbo seco, a temperatura de bulbo úmido é uma indicação da quantidade de umidade no ar. Quanto menor a umidade relativa do ar, maior o resfriamento). Ela é medida com um termômetro coberto com um pano úmido e, quando seu valor fica acima de 35 graus centígrados, indica uma condição na qual nosso corpo não pode esfriar o suficiente com o suor; em outras palavras, 35 graus centígrados é o limite superior de sobrevivência para nós humanos. Um estudo da Universidade de Loughborough, na Inglaterra, revelou que esse valor está sendo excedido cada vez mais frequentemente e, portanto, o aquecimento global está produzindo um número crescente de áreas inabitáveis ??em todo o planeta. Áreas nas quais nós, humanos, e a imensa maioria dos animais e vegetais simplesmente não têm mais condições de permanecer.

Da mesma forma que para os humanos, animais como os búfalos não saem da água em Jacobabad, Paquistão.

Ondas de calor

O estudo liderado por Tom Matthews levou em consideração dados meteorológicos de várias estações meteorológicas ao redor do mundo e encontrou resultados preocupantes, especialmente no Golfo Pérsico, Índia, Paquistão, Estados Unidos e México. Por “preocupantes”, queremos dizer que a temperatura medida de bulbo úmido estava sempre entre 27 e 35 graus centígrados, ou seja, os valores considerados de risco para a saúde humana. Esses números são altíssimos e altamente prejudiciais para a vida humana. Só para citar um exemplo comparativo, a onda de calor que atingiu a Europa em 2003 gerou milhares de mortes sem nunca exceder os 28 graus centígrados de bulbo úmido. A frequência dessas medições dobrou de 1979 até hoje e, em algumas áreas, como a cidade paquistanesa de Jacobabad ou a de Ras Al Khaimah, nos Emirados Árabes Unidos, o limiar de 35 graus centígrados foi inclusive superado, uma absoluta “primeira vez” na literatura científica.

No Paquistão, com o calor extremo, um mecânico de carros improvisa uma chuveirada no meio da rua.

Cada vez mais quente

É importante ressaltar que exceder 35 graus (ainda) não é um evento normal ou que se prolonga ao longo do tempo: o estudo fala de “condições que duram uma ou duas horas no máximo”. São, portanto, momentos de calor extremo, mas que não duram dias inteiros. Mas isso não significa, no entanto, que os dados sejam menos preocupantes: de acordo com os autores do estudo, “condições extremas, que excedem o limiar de tolerância do nosso corpo, estão mais próximas de nós do que acreditamos, pelo menos em certas áreas do mundo”. A maioria dos locais onde os valores extremos foram medidos é escassamente povoada e, acima de tudo, é habitada principalmente por populações ricas que têm acesso ao ar condicionado. Mas se as coisas continuarem assim, dizem os autores, as mesmas condições podem ocorrer em áreas menos equipadas, sem mencionar que a crescente demanda por energia para manter uma temperatura aceitável contribuiria ainda mais para o aquecimento global.

Enquanto isso, na Sibéria, o aquecimento global torna mais habitáveis regiões que até a pouco apresentavam apenas temperaturas extremamente baixas.

Regiões que ficarão habitáveis

Enquanto partes do mundo estão se tornando inabitáveis por causa do aumento das temperaturas, algumas áreas desertas da Sibéria e partes da Rússia asiática estão se tornando habitáveis por causa das alterações climáticas, indica um estudo do Instituto Sukachev da Floresta, na Rússia, noticiado pela ScienceAlert. Até 2100, é possível que as temperaturas subam tanto que as zonas atualmente frias demais para a sobrevivência humana passem a ser mais amenas e suportáveis. Isso pode motivar uma migração em grande escala, já que outras regiões mais povoadas vão ficar demasiado quentes.

A área da zona habitável na Sibéria pode aumentar 15% até 2080

Os cientistas do instituto russo utilizaram modelos que permitem prever quais vão ser as condições de habitabilidade na Sibéria nas próximas décadas. Descobriram que, já a partir de 2080, as temperaturas podem ter aumentado entre 3,4 e 9,1 graus centígrados durante o inverno e entre 1,9 e 5,7 graus centígrados durante o verão. E perceberam que a área coberta pelo permafrost (ou pergelissolo) — a terra permanentemente congelada das regiões próximas ao Ártico — diminuiria de 65% para 40%.

Isso significa que, apesar de algumas regiões permaneceram inabitáveis com o aquecimento global, tais valores podem traduzir-se numa área habitável para longas estadias 15% maior do que na atualidade. Mas isso não são boas notícias: é que, enquanto a Sibéria se torna mais acolhedora para os humanos, outras regiões do planeta vão tornar-se demasiado quentes ou ficar inundadas por causa do aumento do nível médio da água do mar. Além disso, recorda a ScienceAlert, isso obrigaria os humanos a invadir regiões dominadas por ursos polares e a enfrentar uma atmosfera poluída por produtos químicos tóxicos.

Este estudo, publicado na revista científica Environmental Research Letters, chega numa altura em que se descobriu que a Groenlândia registou temperaturas 4,4ºC superiores ao normal ao longo desta semana. Os dados do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo — um centro de investigação norte-americano — indicam que nunca se registou uma extensão do gelo sobre o Oceano Ártico tão baixa em meados de junho como em 2020.