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Campos Ardentes. Supervulcão no coração de Nápoles

Os Campos Ardentes (Campos Flégreos, Campi Flegrei em italiano) estão acordando depois de quase 500 anos de relativa dormência. É o que aponta um novo estudo sobre esse supervulcão, situado na parte oeste da cidade de Nápoles, na Itália.

Por: Luis Pellegrini

Campo vulcânico vizinho do Vesúvio, localizado na comuna de Pozzuoli, na região da Campânia, província de Nápoles na Itália, dá sinais de que está “acordando” e coloca 500 mil pessoas em risco. Cercada pelas zonas urbanas de vários bairros napolitanos, a zona dos Campos Ardentes está perto do mar, possui 13 quilômetros quadrados de área de atividade vulcânica e altitude máxima de 458 metros. Sua última erupção foi em 1538, e tudo indica que pode voltar à ativa muito em breve.

Na mesma área – que é na verdade a caldeira de um imenso complexo vulcânico subterrâneo -, fica o Vesúvio, o vulcão famoso por destruir Pompeia e outras cidades romanas no ano 79 da Era Cristã. Ficam também as “solfataras de Pozzuoli”, que são grandes poças de lama sulfurosa percorridas por bolhas de gazes em alta temperatura que vêm das profundezas e estouram na superfície exalando o odor característico de enxofre. Uma área, em suma, de características bastante “infernais”, que no entanto agrada aos turistas. Espalhada exatamente sobre a caldeira, está a cidade metropolitana de Nápoles, com uma população de mais de três milhões de moradores, a terça cidade italiana por número de habitantes, mas a primeira em termos de densidade habitacional.

Além das colinas sulfurosas, a área dos Campi Flegrei possui mais de 20 caldeiras menores compondo a grande caldeira de supervulcão, fontes termais, gêiseres e depósitos subterrâneos abarrotados de magma.

Um processo preocupante

Estudo publicado há pouco pelo Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia em Bologna, demonstrou que o magma dos Campos está perdendo elementos voláteis – um processo chamado de desgaseificação. Os índices são preocupantes, porque podem levar a área vulcânica ao ponto crítico de pressão que precede uma grande erupção.

Esse é o momento em que o magma começa a liberar gases e a aquecer toda a estrutura dos Campos Flégreos. Os primeiros sinais disso seriam deformações no solo – que já estão sendo percebidas na região desde 2012.

Essa atividade pode levar as rochas da região a perder sua resistência mecânica, um dos últimos “mecanismos de proteção” antes da lava começar a jorrar para todos os lados.

A situação é especialmente preocupante porque Nápoles e seus arredores formam uma das áreas mais densamente populosas do mundo: por lá, vivem 3 milhões de pessoas. Pelo menos 500 mil delas seriam diretamente afetadas pela atividade vulcânica dos Campos Ardentes.

O objetivo da pesquisa é alertar as autoridades de que os sinais de “agitação” do supervulcão são claros e urgentes – e que está na hora de criar um plano de contenção capaz de lidar com essa grande população.

A última erupção dos Campos aconteceu em 1538 e foi considerada uma das menores da história. Apesar disso, a lava que se acumulou na área chegou a formar uma montanha nova, o Monte Nuovo. Mas a reputação explosiva da região é ainda mais antiga: há 40 mil anos, outra erupção espalhou 300 quilômetros cúbicos de cinzas – o suficiente para encher cerca de 110 milhões de piscinas olímpicas!

Campi Flegrei sob vigilância: estudos contínuos sobre as condições de pressão no interior da caldeira e as emissões de gases nas solfataras. 

Vídeo: Italy’s Campi Flegrei SuperVolcano eruption possibly closer than thought (narrado em inglês)

Os Campi Flegrei estavam em estado de “atenção científica”, um grau acima do estado de quietude. Devem passar agora para o estado de “atenção”.

O recente estudo que comprovou o despertar do supervulcão Campi Flegrei foi realizado pelo INGV (Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia) italiano, e evidencia a existência de um limite de pressão do magma durante a ascensão para a crosta. Uma vez atingido esse limite, um vulcão até o momento considerado adormecido pode despertar e evoluir para uma condição crítica ou de perigo.

As colunas romanas do Templo de Serapis, no antigo ‘Macellum’ romano di Pozzuoli (NA). Pistas deixadas nas colunas pormoluscos marinhos, nos períodos nos quais elas estavam parcialmente submersas, permitiram as primeiras reconstruções dos bradisismos, ou seja as grandes variações do nível do solo, que com frequência levavam as colunas para abaixo do nível do mar, nos últimos 2 mil anos.

O estudo, publicado na revista científica Nature, tinha como objetivo a análise dos processos que acontecem no interior dos vulcões que se encontram em estado de quietude, para se compreender o que pode trazê-los de volta a uma condição de possível atividade eruptiva. O estudo se concentrou sobretudo no exame da caldeira dos Campi Flegrei.

A fonte de magma

Por causa do seu enorme poder de destruição, toda a área dos Campi Flegrei é objeto nestes dias da atenção de várias equipes de cientistas da vulcanologia. Uma delas acaba de localizar a fonte de magma que alimenta o supervulcão. A pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade e Aberdeen, em colaboração com o Observatório Vesuviano INGV e a Universidade do Texas em Austin (EUA), e acaba de ser publicada na revista Scientific Reports.

Campi Flegrei sob vigilância: estudos contínuos sobre as condições de pressão no interior da caldeira e as emissões de gases nas solfataras.

A posição da câmera magmática do perigoso vulcão ainda não era conhecida com precisão. Essa pesquisa descobriu que ela se encontra em um ponto diverso do que se pensava: ele se deslocou na verdade para a região de Pozzuoli. É ali que agora se encontra a “zona quente” que alimenta o supervulcão dos Campos Ardentes.

Os Campos Ardentes são definidos como um supervulcão porque, no passado, produziu erupções de enorme violência que inclusive podem se repetir no futuro. Atualmente toda a área se encontra em estado de “alerta amarelo”, por causa dos movimentos do solo que se verificaram nos últimos anos e que foram provocados sobretudo pelo movimento de fluidos no subsolo.