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Plutão está de volta. Astrônomos afirmam que ele não é planeta anão

 

Desde 2006 Plutão deixou de ser considerado um planeta. Diziam que ele era pequeno demais para tanto. Mas agora muitos astrônomos afirmam que desclassifica-lo foi um erro grosseiro. E explicam por quê. Na foto de abertura, Plutão, fotografado pela sonda New Horizons. Suas cores são interpretadas por computador.

Por: Luis Pellegrini

 

Plutão possui montanhas e até mesmo uma atmosfera, mas não é oficialmente considerado um planeta. NASA

Os astrólogos morreram de rir quando um grupo de poderosos astrônomos decidiram, em 2006, rebaixar Plutão, retirando-o do clube dos nove planetas do Sistema Solar e relegando-o à categoria menos prestigiosa de “planeta anão”. Plutão, para a astrologia, é planeta de primeira grandeza, e presença importantíssima nos horóscopos. Bem, astrônomos e astrólogos nunca foram de dormir na mesma cama… Mas a verdade é que, mesmo entre os astrônomos, que sabidamente querem que o estudo dos astros e dos seus movimentos nos céus seja apenas pura ciência cartesiana, o fim de Plutão como planeta não agradou nada, seja por questão de hábito, seja por razões afetivas, seja porque já tinham decorado os nomes dos 9 planetas, desde Mercúrio, o mais próximo do Sol, até Plutão, o mais distante… Agora, aos muitos que contestam o rebaixamento, juntaram-se também os astrônomos da Universiy of Central Florida: segundo os estudos que eles fizeram, os critérios para definir “planeta” um objeto celeste, estabelecidos pela União Astrônomica Internacional, são no mínimo discutíveis.

A definição da UAI (a entidade que em 2006 expulsou Plutão do clube) quer que um planeta, para ser considerado como tal, tenha de satisfazer três requisitos: ser maciço o bastante para que a sua gravidade lhe confira uma forma arredondada; orbitar ao redor do Sol; e (atenção!) dominar a própria órbita, ou seja ter esvaziado a sua “zona” do Sistema Solar de outros corpos celestes.

Plutão tem 5 satélites. O maior eles, Caronte (na foto), provavelmente foi formato por causa de um impacto do próprio Plutão com um dos muitos objetos que transitam na sua zona orbital. NASA

O resto é conversa: Plutão, compartilhando a sua órbita com tantos outros pequenos objetos transnetunianos, perdeu o seu status de planeta. A decisão foi imediatamente criticada, primeiro pelos astrólogos e outros apaixonados, mas logo vários astrônomos se rebelaram contra ela, e agora também a importante equipe de estudiosos do Flórida Space Institute, capitaneada por Philip Metzger. Os protestos desse grupo se baseiam nas bases históricas do requisito de dominância orbital, e também em um precedente histórico, similar ao atual.

Asteroides e planetas anões 

Na primeira metade do século 19, as contínuas descobertas de novos pequenos “planetas”(Ceres, Vesta, Pallas, etc) fizeram os astrônomos torcer o nariz. Esses cientistas, para evitar uma lista de dezenas dde novos planetas, classificaram os recém chegados como asteroides. Do mesmo modo, as recentes descobertas de vários outros objetos similares a Plutão (Haumea, Makemake, Sedna, etc) levaram os astrônomos a criar a categoria “planeta anão”, na qual lançar esses corpos celestes recém descobertos cujo número tende a aumentar cada vez mais.

No entanto, como ressalta Philip Metzger, nos últimos dois séculos o requisito de dominância orbital nunca teve muita importância. Por outro lado, historicamente, os astrônomos traçaram uma linha de fronteira baseando-se na complexidade e na composição físico-química do corpo celeste, e não sobre um parâmetro extrínseco e mutável como é o caso da quantidade de corpos espaciais girando naquela órbita.

As características de Plutão são diversas daquelas esperadas: trata-se de um mundo bastante variável e dinâmico. NASA

“A categorização da UAI diz que os planetas devem ser definidos com base em um conceito que não é mais usado por ninguém no âmbito da pesquisa astronômica”, declara Metzger, “e que deixaria fora o segundo planeta mais complexo e interessante do Sistema Solar”. Além disso, prossegue o cientistas, “temos uma lista de mais de 100 exemplos recentes de estudiosos que usam a palavra ‘planeta’ em um modo que viola a definição da UAI, e o fazem porque isso é funcionalmente útil”.

Ilustração: a sonda New Horizons, da NASA. Ela observou Plutão de perto e neste momento viaja em direção a um pequeno planeta chamado Ultima Thule.  Logo atrás da sonda, o planeta Plutão e seu satélite Caronte. NASA

Uma coisa é certa: não importa em qual categoria decidamos incluí-lo, Plutão permanece um objeto celeste fascinante e surpreendente. As imagens da sonda New Horizons revelaram um mundo extremamente complexo e variável. Talvez tenham sido exatamente essas imagens que levaram Alan Stern, responsável pela missão New Horizons, a se unir à equipe de Metzger nessa campanha de reabilitação planetária.