Ao contrário das antigas solidões — aquelas das cavernas, dos desertos e dos eremitas —, a solidão contemporânea nasce no coração das multidões. Nunca estivemos tão próximos e, paradoxalmente, tão distantes. As metrópoles pulsantes, cobertas por antenas e cabos de fibra óptica, são agora desertos invisíveis, onde cada tela se torna um espelho e cada toque, uma tentativa de preencher o silêncio.
Nas redes, compartilhamos sorrisos, opiniões, memórias instantâneas. Mas por trás do brilho das notificações, cresce uma ausência que os algoritmos não conseguem decifrar. A convivência foi substituída pela conexão; o diálogo, pela resposta automática. As ruas lotadas, os trens abarrotados e os prédios que tocam o céu abrigam milhões de pessoas que já não se veem — apenas se cruzam, distraídas, em mundos paralelos de luz azulada.
A solidão, antes um espaço de introspecção, tornou-se uma epidemia silenciosa. E talvez estejamos diante de um novo ponto de não retorno: o momento em que, cercados por vozes digitais, esquecemos o som real de uma presença humana.
