Transformação global. Cinco políticas para um mundo próspero e sustentável

 

Em uma palestra sobre como podemos construir um futuro robusto sem destruir o planeta, o perito em sustentabilidade Johan Rockström apresenta o modelo Earth3 – uma nova metodologia que combina os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas com as nove fronteiras planetárias, através do qual os sistemas vitais da Terra podem se tornar instáveis. Saiba mais sobre as cinco políticas de transformação que podem nos ajudar a alcançar o desenvolvimento mundial próspero e inclusivo, enquanto mantemos a Terra estável e resiliente. 

Vídeo: TED Ideas Worth Spreading

Tradução: Renata Oliveira. Revisão: Maricene Crus

O sueco Johan Rockström é cientista de renome internacional por causa de suas ideias e trabalhos sobre a sustentabilidade global. Ele é o atual diretor do Centro de Resiliência de Estocolmo e diretor adjunto do Instituto Potsdam: https://www.ehf.org

Vídeo: Palestra de Johan Rockstrom no TED

 

 

Tradução integral da palestra de Johan Rockstrom no TED:

Em 2015, vimos dois avanços fantásticos, que encheram a humanidade de esperança. Primeiro, a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o plano coletivo, universal para a humanidade para erradicar a fome, promover um bom desenvolvimento econômico e boa saúde, dentro das metas ambientais globais. Segundo, após 21 anos de negociações, adotamos o legalmente irrevogável Acordo de Paris, todas as nações mantendo o aquecimento global abaixo de 2 graus centígrados, com foco em 1,5 graus centígrados. Hoje, após três anos, ainda estamos só nas aparências.

Agora, acho que é hora de voltar um passo atrás e reconhecer que eu duvido se os líderes mundiais realmente sabem o que assinaram na Assembleia Geral há três anos. Estas são metas universais, ambiciosas e de transformação para uma humanidade próspera e inclusiva em um sistema terrestre estável. Mas existem problemas estruturais. Temos contradições inerentes entre esses objetivos, nas quais há o risco de perseguir uma meta preferida em detrimento de outras. Veja por exemplo o Objetivo 8, trabalho digno e crescimento econômico. Se continuarmos a fazer isso explorando recursos naturais e queimando combustíveis fósseis, será impossível alcançar o Objetivo 13. Após três anos, precisamos simplesmente admitir que estamos vendo ações limitadas em relação a de fato mesmo focar isso como um pacote universal coletivo e inclusivo.

O consumismo insustentável é uma das maiores ameaças à sobrevivência da humanidade na face do planeta Terra.

Então, isso faz com que a gente tenha que dar um passo pra trás. Acho que temos que nos fazer algumas perguntas difíceis: temos mesmo chance de atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030? Há mesmo compensações inatas que não sejam compatíveis com o nosso paradigma atual de desenvolvimento? Mas, existem talvez, sinergias onde podemos realmente acelerar a mudança? E isso é mesmo uma meta entre pessoas e planeta, que leva de fato a sério os objetivos econômicos e sociais ambiciosos dentro dos sistemas de suporte à vida na Terra?

Cidadãos por todo o mundo começam a reconhecer que estamos enfrentando um aumento mundial nos riscos ambientais; de fato, um planeta estável é um pré-requisito para termos um bom bem-estar humano na Terra. Devemos definir um espaço operacional seguro em um sistema terrestre estável, e a estrutura de fronteiras planetárias foi apresentada pela comunidade científica em 2009 para fazer exatamente isso. Ela tem sido amplamente adotada ao redor do mundo em normas, negócios e comunidades como uma estrutura para o desenvolvimento sustentável no Antropoceno.

Este slide mostra a estrutura com os nove processos ambientais que regulam a estabilidade do sistema terrestre, provendo um espaço operacional seguro onde teremos uma grande chance de ter um bom bem-estar humano e prosperidade e equidade. Se formos para a área amarela, entramos numa perigosa cena de incerteza; e na área vermelha, temos uma alta probabilidade de momentos críticos que poderia irreversivelmente nos levar longe da habilidade do sistema terreno de prover bem-estar social e econômico para a humanidade.

A verdadeira globalização já existe: são as comunicações via rede

Nós podemos hoje, cientificamente, quantificar essas fronteiras nos fornecendo um sistema terreno estável para a humanidade. Mas temos que ir além disso e reconhecer que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, se realmente quisermos alcançá-los, agora devem ocorrer dentro deste sistema seguro de operação. Temos que alcançar os ODSs dentro das FPs.

Mas, meus amigos, nem mesmo isso é suficiente. Temos que reconhecer que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão a 12 anos daqui. É somente uma etapa. Precisamos atravessar o alvo e nos ampliar em direção a transformações para que possamos ter um bom futuro para todos os concidadãos na Terra, mais de 9 bilhões, dentro de um sistema terreno estável em 2050 e além.

Isso é uma busca, e para realmente explorarmos isso e não apenas termos opiniões, juntamos a comunidade científica, os melhores pensadores e modeladores e começamos a desenvolver modelo dinâmico todo novo de sistemas complexos, o modelo Earth-3, construindo sobre modelos que estão por aí pelos últimos 50 anos. E aqui está. Este é um trabalho fantástico. Ele tem um modelo de clima, uma biosfera, um modelo econômico global; ele tem algoritmos, tem todo um espaço de conquistas fantásticas. Isso é o que excita a nós cientistas.

Johan Rockstrom, cientista da sustentabilidade.

Não é mesmo um lindo trabalho? E eu adoraria passar a noite toda falando com vocês sobre isso, mas vou ter que desapontá-los. Não posso fazer isso. Na verdade, a única coisa que posso fazer é garantir a vocês que é a primeira vez que isso é feito. Ninguém jamais tentou realmente combinar analiticamente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com as fronteiras planetárias. E conseguimos encontrar padrões e tendências realmente convergentes que nos dão muita segurança em nossa habilidade de agora projetar desenvolvimento econômico, uso de recursos da água, alimentos e energia, crescimento populacional, rendimento per capita, ainda em conjunto com estes caminhos sistêmicos e consistentes. Então, é a primeira vez que temos uma robusta oportunidade de realmente explorar os futuros da habilidade de obter os ODSs pelas FPs.

Então, como fazer isso? Bem, veja só. Aqui temos os dados vindos do mundo real, calibrados de 1970 a 2015: 100 mil pontos de entradas de dados por todo o mundo, baseados na habilidade de sete regiões de realmente atingir estes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Um exemplo de como calibramos isso, aqui temos dados para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na erradicação da pobreza, saúde, educação e alimentação. E aqui temos nos balões as sete regiões do mundo, como elas se movem até 2015 em nossas observações empíricas em relação ao PIB per capita, dadas estas tendências universais convergentes que nos permitiram criar regressões que nos permitiram realizar simulações sobre o futuro, até o ano de 2050, mostrando a habilidade junto às linhas aqui para obter os ODSs.

Então, isso nos deu a oportunidade de construir diferentes cenários testando diferentes futuros possíveis: negócios, como sempre, transformações globais, esquemas de investimento em negócios, diferentes opções de governança, normas, finanças… de verdade, para explorar como o futuro pode ser em nossa habilidade em obter os ODSs com as FPs. E os resultados, posso dizer a vocês, realmente nos surpreendeu. E esta será a primeira vez que é mostrado. Na verdade nem mesmo deverá ser mencionado fora desta sala.

Então, é na verdade apresentado ao longo de dois eixos. O eixo “y” mostra nossa habilidade de ficar dentro das fronteiras planetárias. Quanto mais alto, mais perto do espaço operacional seguro. No eixo” x” estão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Quanto mais para a direita, mais ODSs atingimos. Nós todos queremos estar no canto superior direito, o mundo seguro e justo para o futuro. O ponto que vemos aqui é 1980. Era uma situação em que de fato estávamos em um espaço seguro de operação mas sem atingir muitos dos ODSs. Aqui está a tendência até 2015. Então este é o mundo convencional, que de fato está entregando um crescente número de ODSs, tirando milhões de pessoas da pobreza, mas às custas do espaço operacional seguro na Terra. Aqui, este é o cenário de negócios como sempre, no futuro.

Se apenas continuarmos como hoje, seremos capazes de entregar alguns dos ODSs, mas faremos isso às custas da estabilidade do sistema terrestre. Mas, se formos mais rápido no crescimento econômico, e realmente nos aliarmos a 1% de aumento da receita por ano e até mesmo triplicar a economia mundial até 2050? Isso nos daria a seguinte trajetória Nós conseguiríamos sim ir um pouco mais além nas conquistas dos ODSs, mas ainda às custas do risco de desestabilização do planeta. Mas e se fôssemos realmente além? E se aumentássemos nossa habilidade de entregar o que prometemos em 30% por todos os setores na sociedade, desde o clima até nossos acordos de negócios? Um cenário mais difícil nos levaria a um ponto um pouco melhor, ainda assim, estaríamos falhando nos ODSs, e não estaríamos conquistando um espaço operacional seguro para a humanidade. Então, isto nos levou a uma conclusão um tanto frustrante, a de que vamos, na verdade, mesmo em futuros convencionais, falhar nos ODSs e transgredir as fronteiras planetárias. Nós precisamos de um pensamento radical. Precisamos ir para um futuro transformativo, turbulento, no qual começamos a pensar fora da caixa. A demonstração, o engajamento e o diálogo nos permitem identificar cinco transformações que poderiam potencialmente nos levar lá. A primeira seria cortar emissões pela metade a cada década ao longo do caminho científico para Paris, dobrando os investimentos em energia renovável, criando uma democracia de energia global, o que nos permitiria atingir vários dos ODSs. A segunda seria rapidamente mudar para sistemas de alimentação sustentáveis, investindo 1% ao ano em intensificação sustentável e realmente nos voltando à implementação e investimento em soluções que já temos disponíveis hoje em dia. A terceira é realmente mudar nosso paradigma de desenvolvimento e aprender com muitos dos países desenvolvidos que mudaram muito rapidamente. E se pudéssemos ter um crescimento econômico como a China, estando dentro dos parâmetros ambientais de uma civilização ecológica? Quarta, uma redistribuição da riqueza.

Projeto gigante para a produção de energia solar na China.

E se concordássemos que os 10% mais ricos não se permitiriam acumular mais que 40%, ao máximo, das receitas nacionais. Uma redistribuição drástica da riqueza, reformulando a habilidade de equidade pelas regiões? E finalmente, quinta, um aumento radical em mais educação, saúde, acesso a trabalho, contracepção, investindo amplamente em mulheres por todo o mundo, nos permitindo entregar os ODSs na desigualdade de gêneros, desenvolvimento urbano e econômico. Então, se nos esforçarmos nestes cinco itens, nós testamos e isso nos daria uma caminhada impressionante em direção a um sistema operacional seguro e justo na Terra. Isso nos mostra que mesmo com um modelo conservador, baseado em dados empíricos ou com sistema de dinâmica complexa, estamos em um estado onde podemos realmente pensar em transformações pelos próximos 12 anos e além que podem nos levar ao espaço operacional seguro e entregar os ambiciosos objetivos sociais e econômicos. Isso é bem encorajador, apesar de não estarmos nos movendo por essa trajetória.

Resumindo: Agora, após três anos da entrega operacional dos ODSs, devemos traçar um linha e concluir que não estamos entregando nossas promessas, e não apenas isso, estamos correndo os riscos de que futuras gerações possam ter uma habilidade mais ainda prejudicada, devido ao risco de forçar o sistema terreno além dos pontos cruciais. Na verdade, estamos enfrentando até mesmo o risco de uma estufa terrestre, quando vamos abalar o sistema e criar instabilidades geopolíticas que poderiam, de verdade, tornar a vida ainda mais difícil para bilhões de pessoas na Terra. Isso, com toda a honestidade, realmente é algo que me assusta. Mas também é o que me traz aqui hoje à noite, porque a janela para o sucesso ainda está aberta. O sistema terreno é ainda resiliente. A Terra ainda nos provê com sistemas e funções do ecossistema que nos permitem uma transição de volta a um espaço operacional seguro. Mas precisamos mudar radicalmente nosso pensamento. Devemos enxergar isso tudo como um alerta incrível, mas também como uma oportunidade para uma mudança transformadora, na qual mudamos a marcha e de fato começamos a pensar nos ODSs como planos transformadores dentro de um espaço operacional seguro na Terra. Em outras palavras, podemos construir um mundo seguro e justo. Precisamos somente, e verdadeiramente começar. E vamos fazer isso. Obrigado.

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