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Anne Frank. A história se repete

 

Sim, a história se repete, e os seres humanos não conseguem aprender com ela. Hoje, líderes mundiais como Donald Trump decidem proibir a entrada em seus países de refugiados de guerra estrangeiros que buscam sobreviver através da obtenção de um certificado de asilo. No passado, no período da Segunda Grande Guerra, um outro presidente norte-americano, Theodor Delano Roosevelt, também emitiu decreto proibindo a concessão de asilo aos refugiados que fugiam dos conflitos na Europa. Curiosamente, ambos, Roosevelt e Trump, se valeram do mesmo argumento para justificar sua atitude: “Defender a segurança nacional”. As consequências disso, no caso de Roosevelt, foram trágicas. Não deverá ser diferente no caso de Trump, atual mandatário dos Estados Unidos.

Por: Luis Pellegrini

A partir do final dos anos 30 do século passado, milhares de cidadãos judeus residentes na Alemanha e nos territórios ocupados pelo Terceiro Reich procuraram todos os meios para fugir dos horrores da loucura nazista. O destino ambicionado era sobretudo a América, em particular os Estados Unidos, onde poderiam viver longe da ameaça nazista.

Entre esses desesperados estava também Anne Frank, a jovem alemã autora do famoso “Diário”, que morreu com apenas 15 anos no campo de concentração de Bergen-Belsen.

Mas, como revelou em 2007 o historiador Richard Breitman, Anne Frank e sua família, bem como dezenas de milhares de outros judeus poderiam ter se salvado se os Estados Unidos não lhes tivessem negado o visto de entrada no país.

Anne Frank em 1940. Ela foi presa pela Gestapo em 1944 e no ano seguinte morreu de tifo em campo de concentracão nazista.

Otto Frank, pai de Anne, fez várias solicitações de asilo aos Estados Unidos em 1938 e 1941, mas os seus pedidos sempre foram negados por causa das políticas restritivas quanto a imigração impostas pelo governo norte-americano naqueles anos sombrios do conflito.

Objetivo declarado do então Presidente Franklin Delano Roosevelt era limitar o fluxo de estrangeiros que chegavam, para “defender a segurança nacional durante a guerra”. Agora, Donald Trump faz dele essas palavras. 

Anne nasceu em 1929 em Frankfurt e se transferiu para Amsterdam com a família em 1933. Otto, seu pai, encontrara uma oportunidade de trabalho nessa cidade holandesa, escapando da pesada crise econômica que grassava na Alemanha e das primeiras perseguições que alertavam os judeus daquilo que estava por vir. No dia 30 de janeiro daquele ano Adolf Hitler tornara-se chanceler do Reich e para os judeus o horizonte estava carregado de nuvens escuras.

Invasão da Holanda selou o destino de Anne Frank

Para a família Frank, a Holanda significou o início de uma nova vida. Que, infelizmente, não durou muito: em 1o de setembro de 1939 a Alemanha ocupou a Polônia fazendo desencadear a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1940, chegou a vez da Holanda ser invadida, e de ser selado o destino de Anne Frank.

A jovem viveu escondida com a família, no sótão de uma casa, de 1942 a 1944, depois da invasão nazista da Holanda e da implantação das leis raciais.

Nesse período, Anne escreveu em holandês um diário e alguns contos e fábulas, antes de ser deportada. O diário, publicado em 1947 pelo pai, Otto Frank – o único da família que sobreviveu aos campos de concentração – é um excepcional documento humano da reclusão, das ansiedades e das esperanças de uma adolescente no contexto trágico do extermínio durante a Segunda Guerra Mundial.

“Eram continuamente emanadas leis antissemitas que limitavam gravemente a nossa liberdade”, escreveu Anne em 20 de junho 1942. “Os judeus deviam trazer costurada nas roupas a estrela de Davi; os judeus deviam entregar as bicicletas; os judeus não podiam subir nos bondes; os judeus não podiam andar de automóvel, nem mesmo nos carros privados; os judeus só podiam fazer compras entre as 15 e as 17 horas; os judeus só podiam frequentar cabeleireiros judeus; os judeus não podiam sair às ruas das 20 horas até as 6 horas da manhã; os judeus não podiam frequentar teatros, cinemas e outros locais de divertimento”.

O último trecho do Diário de Anne Frank foi escrito no dia primeiro de agosto 1944. Em 4 de agosto a Gestapo descobriu e invadiu o esconderijo secreto da família. Foi o começo o fim. Anne morreu em março de 1945.

“Apesar de tudo, ainda acredito que as pessoas são boas no fundo dos seus corações”, escreveu Anne Frank poucos dias antes de ser deportada e morta pelos nazistas.

O drama do navio Saint Louis

A família Frank não foi, no entanto, a única a sofrer as consequências das portas norte-americanas que lhes foram fechadas. Em maio de 1939, com efeito, o Saint Louis, um navio de cruzeiro com mais de 900 judeus a bordo zarpou das costas da Alemanha em direção a Cuba. Chegado ao largo de Havana, o navio teve seu ingresso ao porto impedido pelas autoridades cubanas. Rumou então para a Flórida, mas também ali a nave foi recusada, apesar das súplicas que os passageiros enviaram diretamente ao Presidente Roosevelt.

O Saint Louis, assim sendo, voltou à Europa onde, segundo relatos, cerca de 250 passageiros foram mortos pelas mãos dos sequazes de Hitler.

O único filme de Anne Frank

Este é, ao que se saiba, o único filme da jovem judia morta no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945, aos 16 anos. Anne Frank aparece apoiada no peitoral da janela de sua casa em Amsterdam, em 1941, durante a passagem de dois recém-casados. As imagens foram feitas quando a família Frank ainda estava escondida.