PIRÂMIDES – Edifícios do futuro

A incrível "Ilha de Cristal", imensa estrutura piramidal projetada para Moscou.

 

Em todo o mundo erguem-se projetos baseados na pirâmide, forma arquitetônica mista de ficção científica, design ecossustentável e significados esotéricos

Por Luis Pellegrini

Será a solidez da base, firmemente ancorada sobre a terra como as raízes de uma figueira imensa, ou a aerodinâmica do vértice, apontando para o céu como se dele esperasse alguma coisa. Será por que, durante milhares de anos, elas foram as maiores estruturas jamais construídas pelo ser humano, que na sua forma encontrou a coragem de imitar a natureza e criar as “suas” montanhas. O fato é que as pirâmides, tipologia arquitetônica rainha dos tempos antigos, continuam a fascinar batalhões de arquitetos, engenheiros e artistas que não se cansam de colocá-las no cerne dos seus projetos –  mais ou menos realistas – de cidades e centros urbanos futuristas.

A Pirâmide Transamérica, edifício-emblema de San Francisco

“A pirâmide é a configuração ideal para um edifício alto e de muitos andares numa área urbana densamente povoada: possui a vantagem prática de possibilitar mais luz e ar nas ruas circunstantes, além de desenhar no céu uma silhueta original e elegante”, diz William Pereira, o arquiteto que projetou a Transamerica Pyramid, estrutura destinada a tornar-se um dos símbolos de San Fracisco.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Assim será o The Shard, em Londres, com iluminação noturna

Os exemplos de arquietos contemporâneos que se inspiraram na forma piramidal são muitíssimos. Basta pensar, entre outros, no The Shard, o arranha-céu em ponta desenhado pelo italiano Renzo Piano que, em meados de 2012, deverá dar o ar de sua graça nos céus de Londres.

Na maior parte dos casos, a estrutura piramidal casa bem com os princípios do design ecossustentável, com estruturas capazes de otimizar o consumo energético e manter substancialmente a si mesmas como complexos urbanos autosuficientes . Às vezes as pirâmides são pensadas para resistir a eventos calamitosos como terremotos e furacões; outras vezes, para reconectar os seres humanos ao ciclo da Lua. Façamos um tour virtual pelas pirâmides do futuro, a partir da capital dos Emirados Árabes até Nova Orleans, passando por lugares que ainda existem apenas no papel.

O "Cúbito Lunar", conjunto de estruturas piramidais projetadas para Abu Dhabi

O Cúbito Lunar e as nove pirâmides de Abu Dhabi.

O primeiro LED ainda deve ser colocado, mas entre os especialistas da área o projeto Lunar Cubit  já é uma instituição, não fosse por ter vencido o certame “Land Art Generator Initiative”, prêmio internacional pelo melhor casamento entre arte e energias renováveis. A estrutura é pensada para ser, ao mesmo tempo, central elétrica, obra de arte e calendário lunar, no contexto da tradição islâmica. A idéia pertence a Robert Flottemesch, artista e engenheiro novaiorquino que, com a ajuda de Johanna Ballhaus, Adrian P. De Luca e Jen DeNike desenhou aquilo que ele próprio definiu um “símbolo de imaginação e sustentabilidade”.

O nome “cúbito” se refere ao cúbito, a medida de comprimento mais comum na antiguidade, utilizada inclusive pela civilização egípcia. A estrutura deverá surgir no deserto de Abu Dhabi, perto de Masdar City, cidade projetada para ser o primeiro centro urbano com índice zero de emissões poluidoras. Consistirá de oito pirâmides dotadas de painéis solares, dispostas em círculo ao redor de uma pirâmide ainda maior. O conjunto respeita as proporções da pirâmide de Quéops, em Gizé, no Egito, a única das sete maravilhas do mundo antigo que resistiu aos golpes da história e do tempo. Quando estiver pronta a instalação – um misto de vidro, aço e silício amorfo – funcionará como uma central solar, alimentando cerca de 250 residências. À noite, a grande pirâmide se adaptará ao ciclo da Lua, iluminando-se ao máximo durante a Lua Nova, e permanecendo mais na penumbra nas noites de Lua Cheia. As oito irmãs se comportarão como os ponteiros de um relógio, acendendo-se em combinações diversas para indicar se o nosso satélite está em fase decrescente ou se, ao contrário, está crescendo.

A incrível Pyramid farm", fazenda piramidal.

“Pyramid Farm”: projeto para uma agricultura sustentável.

Deixando de lado os astros, passaremos agora a um projeto que tem a ver com uma exigência básica do ser humano: comer. O conceito talvez já esteja implícito na palavra grega “pyramis”, usada para indicar uma torta de farinha de trigo. É exatamente o trigo, junto a uma série de outras culturas, que Dickson Despommier, professor de saúde pública e ambiental na Columbia University, pretende cultivar no interior de uma pirâmide. Deste ponto de vista, a “Pyramid Farm” não é mais que uma variante da Vertical Farming, um projeto agrícola que defende a necessidade de se adotar, até 2050, novas técnicas de cultivo vertical, a única possibilidade, segundo os estudiosos, de saciar a fome dos três milhões a mais de pessoas que, até aquela data, povoarão nosso planeta.

A “Pyramid Farm”, é apresentada como um “ecossistema autosuficiente capaz de abrigar tudo”, da produção de alimento – peixes e aves inclusive – à gestão do lixo. O projeto inclui também um sistema de aquecimento e pressurização. Segundo Despommier, as estufas contidas numa estrutura desse tipo podem requerer apenas 10% da água e 5% da área de terra necessárias para o cultivo das mesmas quantidades de alimento em campo aberto. Onde serão construídas essas versões hi-tech dos jardins suspensos da Babilônia? Nada ainda foi decidido a esse respeito, mas os pais do Vertical Farm Project não têm dúvidas: cedo ou tarde essas idéias se transformarão em realidade.

Grande como uma montanha, o Arcology Habitat está projetado para Nova Orleans

A pirâmide montanha: idéias para Nova Orleans.

Se um dia for realizado, o projeto Noah trasformará um trecho do Rio Mississipi num cenário perfeito para filme de ficção científica. O projeto – acrônimo de New Orleans Arcology Habitat –  representa uma proposta singular de reconstrução da cidade de Nova Orleans, em grande parte destruída em 2005 pela violência do furacão Katrina. A estrutura, de fato, foi pensada para resistir aos furacões mais violentos e para assegurar a autonomia em qualquer condição atmosférica. Trata-se de uma mega cidade em forma de pirâmide, de 2,7 milhões de metros quadrados e projetada para abrigar cerca de 40 mil habitantes. A planta do projeto prevê espaço suficiente para 20 mil unidades residenciais, 3 hoteis, 1500 apartamentos, lojas, espaços culturais, escritórios, escolas, um hospital e estacionamento para 8 mil veículos. Teoricamente, os automóveis teriam pouca ou nenhuma serventia no interior do complexo, visto que a estrutura urbana prevê uma rede de transportes elétricos tanto verticais quanto horizontais.

Entre outros elementos ligados a preocupações ambientais e ecossustentáveis, o Noah terá turbinas eólicas dotadas de dispositivos de segurança, mecanismos de armazenamento e recuperação de água fresca, sistemas solares ativos e passivos, Sky garden para otimizar as dinâmicas de aquecimento e refrigeração, sistemas para o reuso e tratamento das águas de esgoto e turbinas para gerar eletricidade graças à corrente do Rio Mississipi. Como o seu nome indica, o projeto entra no conceito da “arcologia”, neologismo formado pelas palavras “arquitetura” e “ecologia”. O Noah, enfim, se apresenta como arca de Noé, rigorosamente piramidal, baseado nos princípios da arcologia.

Crystal Island e Pyramid City, da Rússia ao Japão.

O bairro piramidal de Nova Orleans não é o único projeto de cidade-pirâmide: outras duas propostas acabam de ser apresentadas, e deverão revolucionar para sempre o conceito de arquitetura urbana. Definida como uma cidade-microcosmo, a Crystal Island espera o Ok definitivo por parte do governo russo. Caso o projeto seja aprovado, ele terá a forma de uma pirâmide dotada de um duplo revestimento para não perder calor nos frios invernos moscovitas. Com uma altura de mais de 450 metros, a Crystal Island poderá acolher cerca de 900 apartamentos, 3 mil quartos de hotel e tudo aquilo que caracteriza um centro urbano, tornando-se o maior complexo jamais construído em termos de metros quadrados (comparável ao Noah de Nova Orleans).

Ainda mais impressionante poderá ser um dia a Pyramid City idealizada pela sociedade japonesa Shimizu: 12 vezes mais volumosa do que a Grande Pirâmide de Gizé e formada por 204 unidades piramidais, cada uma delas com a dimensão de um arranha-céu. A estrutura poderá alojar cerca de 750 mil pessoas e conterá no seu interior escritório, hotéis, lojas e tudo o mais. A sua forma piramidal, por outro lado, a tornaria extremamente estável em caso de terremoto.

A gigantesca Pyramid City, projetada pela Shimizu, no Japão

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